Três anos são decorridos sobre o início da agressão militar à Líbia, iniciada a 17 de Março de 2011. Os primeiros bombardeamentos foram efectuados pelas forças armadas dos Estados Unidos da América que, dez dias depois, entregaram o comando das operações à NATO. Mas a coligação envolvida na agressão incluiu também a Bélgica, Bulgária, Canadá, Dinamarca, França, Grécia, Itália, Holanda, Noruega, Roménia, Reino Unido, Espanha e Turquia, todos membros da NATO, e ainda a Jordânia, o Qatar, a Suécia e os Emirados Árabes Unidos.
A invasão foi “justificada” pelos países da “coligação” como resposta à actuação do governo líbio face às manifestações e aos protestos populares, iniciados em Benghazi, no dia 15 de Fevereiro de 2011. Manifestações essas, com motivações diversas e em muito semelhantes às que ocorreram em diversos países árabes, na que ficou conhecida pela “primavera árabe”. Hoje, sabe-se que organizações como a Al Qaeda e a Irmandade Muçulmana, com ligações aos serviços secretos franceses e norte americanos, estavam directamente envolvidas nessas manifestações.
A guerra durou até 31 de Outubro do mesmo ano, dez dias depois do assassinato do Chefe de Estado Líbio Muammar Khadafi. Nela foi testado e usado do mais moderno equipamento de combate, em terra, mar e ar, produzido pelos complexos militares- industriais dos países agressores.
Muitas destas armas, entregues, no final da guerra, aos grupos para militares, vieram a ser usadas em outros conflitos, como o do Mali ou da Síria.
O número de vítimas dos bombardeamentos e da ofensiva no terreno estima-se em cerca de 2000. A destruição de equipamentos e infraestruturas atingiu valores muito elevados.
Três anos depois, a Líbia é um Estado destruído e a saque, com o poder, de facto, entregue a grupos militarizados salafitas, tais como a Irmandade Muçulmana ou a Ansar Al – Charia que domina na parte leste e centro do país, ou a poderes tribais, um dos quais, os Toubou, do sul do país, acabam de anunciar a formação de um novo Estado.
Os conflitos militares entre estes grupos configuram um estado de guerra civil, em que as populações civis são as mais afectadas.
A população líbia, antes com um elevado nível de vida, vive, hoje, uma situação de grandes carências, dependendo, na sua maioria, dos sistemas caritativos dos salafitas, que exploram, em benefício próprio, as jazidas de hidrocarbonetos e outras riquezas do país.
Segundo fontes da ONU, cerca de 35 000 refugiados não regressaram às suas casas e mais de 5000 pessoas estarão prisioneiras das milícias criadas e armadas pelas tropas da NATO.
O Conselho Português para a Paz e Cooperação considera que o exemplo da Líbia demonstra que não se deve pôr em causa o respeito pelo princípio da soberania de cada Estado e dos seus povos em nome de interesses económicos, geopolíticos ou geoestratégicos de quem quer que seja. A invasão e destruição da Líbia só trouxe miséria e sofrimento ao seu povo, ficando o país mais pobre, inseguro e desprotegido, tal como aconteceu em situações similares no Iraque, Somália ou Afeganistão.
A Paz e a coexistência pacífica são valores fundamentais que têm de ser preservados e a Organização das Nações Unidas tem o dever de respeitar e fazer respeitar os princípios da sua Magna Carta.