70 anos de varsovia e sheffield 1 20201214 1073381212
 
Há 70 anos, em Varsóvia, realizou-se o II Congresso Mundial da Paz, onde se formou o Conselho Mundial da Paz
Entre 16 e 22 de Novembro de 1950, realizou-se em Varsóvia o II Congresso Mundial da Paz. À capital polaca confluíram dois mil delegados oriundos de 80 países: entre eles, contavam-se reputados cientistas, intelectuais e artistas, resistentes antifascistas, sindicalistas e trabalhadores, governantes e deputados, militares e religiosos; pessoas de diferentes convicções políticas e ideológicas e outros sem qualquer filiação.
O Congresso esteve para se realizar em Sheffield, mas as autoridades britânicas negaram a entrada no país a muitos dos delegados e, até, ao seu principal organizador: o cientista francês Frédéric Joliot-Curie, galardoado com o Prémio Nobel da Química em 1935. Já no ano anterior, o I Congresso teve de se realizar simultaneamente em duas cidades – Paris e Praga – por motivos semelhantes. Desta vez, os líderes do movimento optaram por juntar todos os participantes num único local e a escolha recaiu sobre Varsóvia.
A atitude das autoridades britânicas, como antes das francesas, revela a tensão que então se verificava entre o movimento da paz em formação e os governos das duas potências ocidentais, que mantinham uma atitude que negava frontalmente os valores da paz, do progresso e da soberania inscritos na Carta das Nações Unidas e defendidos pelo jovem movimento: a intervenção militar na Grécia, a divisão da Alemanha, a agressão à Indochina e à Coreia e o apoio – e mesmo estímulo – que davam à chantagem nuclear dos EUA foram denunciados nos vários documentos aprovados no Congresso.
No Manifesto e no Apelo às Nações Unidas, por exemplo, exigia-se a imediata cessação da agressão militar à Coreia e denunciava-se os que procuravam «semear novamente as sementes de guerra na Alemanha e no Japão». Reclamava-se o desarmamento geral e controlado, a abolição das armas químicas e biológicas que por essa altura eram já utilizadas sobre o povo coreano e com a força que emanava das mais de 500 milhões de assinaturas recolhidas pelo Apelo de Estocolmo (lançado em Março desse ano pelo movimento da paz), reclamava-se a “interdição absoluta da arma atómica”.
A criação, no II Congresso, do Conselho Mundial da Paz foi um passo decisivo na consolidação do movimento mundial que se ia construindo pelo menos desde os dois anos anteriores e que tivera momentos particularmente importantes no Congresso Mundial dos Intelectuais pela Paz (Wroclaw, 1948) e no I Congresso Mundial dos Partidários da Paz (Paris e Praga, 1949). Sobretudo a partir deste último, e sustentados das campanhas lançadas pelo Comité Permanente dos Partidário da Paz, aí constituído (com destaque para o Apelo de Estocolmo, pela proibição das armas nucleares), foram criados em diversos países comités nacionais de defesa da paz. Portugal foi um deles.
O Conselho Mundial da Paz emanado deste II Congresso era composto por 221 elementos, de diferentes origens geográficas e sociais e diversas convicções políticas, ideológicas e religiosas. Contavam-se, entre eles, o cientista francês Frédéric Joliot-Curie, o pintor Pablo Picasso, os escritores Louis Aragon, Pablo Neruda, Jorge Amado, Howard Fast, Alexander Fadeev e Ilya Ehrenburg, o cantor Paul Robeson, o futuro presidente da Guiné Conakri, Sekou Touré, e o ex-presidente do México, Lázaro Cardenas, a viúva do líder da revolução chinesa de 1911 (e proeminente figura no seu país) Sr.ª Sun Yat-Sen, o secretário-geral da CGT francesa e o físico português Manuel Valadares.
O exemplo dos partidários da paz que, em meados do século passado, construíram um movimento de carácter mundial e ergueram uma poderosa barreira contra o imperialismo e a guerra deve ser recordado hoje, quando se adensam novas ameaças à paz, à segurança internacional e aos direitos dos povos. A história não se repete, é certo, mas a necessidade de intensificar a ação pela paz e alargá-la o mais possível mantém-se um factor decisivo para salvaguardar a paz, forçar o desarmamento e fazer cumprir o direito inalienável dos povos ao seu desenvolvimento soberano.
Enquanto CPPC, faremos a nossa parte!